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Lenda do Novilho Encantado da Floresta N. Anauá
Lenda do Novilho Encantado da Floresta N. Anauá

 

A Lenda do Novilho Encantado da Floresta Nacional Anauá, trata-se de um Projeto idealizado pelo professor Anthony Costta Zabilini, por ocasião da X Noite Cultura da Escola Joselma Lima de Souza. O projeto fora desenvolvido em sala de aula em parceria com professores/as de 6(seis) turmas de 3º ano do Ensino Fundamenta da escola Joselma Lima de Souza. A implementação das atividades se deram paralelamente ao planejamento coletivo de sequência didática e se estendeu por cerca de 60 dias.

A Lenda do Novilho Encantado permitiu maior participação dos alunos, quer por meio das aulas teóricas por alcance interdisciplinar e transversal por determinados temáticas, quer por meio das aulas prática como: confecção de adereços para os personagens; confecção do novilho; ensaios de toadas de boi bumbá; canto das toadas de boi bumbá compostas por Zabilini para o projeto; ornamentação da sala de aula, entre outras ações que passaram por pesquisas, apresentações em sala, vídeos de boi bumbá de Parintins/Amazonas e ainda do Maranhão, enfim, da cultura popular brasileira de boi bumbá.

Acesse o vídeo aqui: https://www.youtube.com/watch?v=MJhZKFvnoIM

Acesse o Relato de experiênciahttps://thonycosta.comunidades.net/relato-de-experiencia-por-sequencia-didatica3

 

Segue algumas imagens do Projeto:

  

 

 

Apresento a Lenda do Novilho Encantado, neste seguimento cultural, ela é a segunda lenda do Brasil: 

 

LENDA DO NOVILHO ENCANTADO

 

Autor: Professor Anthony Costta Zabilini – Professor Thony como també é conhecido.

Com a criação do Decreto Salve a Fauna Anauá nº 0073 de 15 de junho de 2017, publicado pelo executivo municipal, proibindo definitivamente as temporadas de caça, consequentemente a matança de animais, em especial os bois selvagens, que nesta contemporaneidade entraram para o mapa da extinção, determinando assim, severas penalidades a caçadores clandestinos que persistirem na desobediência da Lei pela captura e/ou matança de bois selvagens da Floresta Nacional Anauá.

É ao sul de Roraima, na cidade de Rorainópolis que se localiza a Reserva Nacional Anauá, ambiente em que surgiu a “Lenda do novilho encantado”. Tudo começou quando caçadores especializados na captura de bois selvagens resolveram descumprir as estabelecidas medidas de Lei e, com este combinado pró-matança, partiram para a caçada com muita confiança e determinação.

A lenda é contada por lá mais ou menos assim: No escurecer da noite, noite de lua nova, 12 sujeitos extremamente armados seguiram em seus cavalos para a floresta, ao chegarem, avançaram mata adentro em plena escuridão. Em 7 horas cavalgadas, já haviam percorrido cerca de 15 km, mesmo enfrentando vários obstáculos, subiram morros e montanhas enormes, desceram ladeiras, atravessaram lagos, igarapés e até rios, assim seguiam destemidos, vasculhando palmo a palmo de chão, desta vez a procura do último boi selvagem da Floresta Nacional Anauá, um boi cercado de mistérios, que para aqueles homens era mais que um troféu, era questão de honra capturarem-no.

Nesta ilícita empreitada, duas coisas foram observadas pelos caçadores, as quais, tão grave quanto a prática prescrita no publicado Decreto, se trata da extração ilegal de árvores desta floresta e resíduos sólidos poluindo mananciais. No caminho arvores tombadas e lixos na beira d`água, sacolas, latinhas, garrafas pet e de vidro, entre outros descartes por ações inconsequentes.

Após muito cavalgarem pela selva sob um céu literalmente escuro e todo estrelado, perceberam algo passando por ali roçando as folhagens, de repente os caçadores pararam e passaram a ouvir pisadas de bicho em folhas secas, um deles as contou: uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove pisadas, e silenciou-se a uma distância por eles estimada em 10 metros, logo em seguida, em um sinal do líder, todos ao mesmo tempo passaram a atirar naquela direção até acabar suas munições. Capsulas de balas caíram aos montes, da esquerda para a direita, partindo-se do local de onde o primeiro caçador se encontrava, foram expelidas 24 capsulas, da segunda carabina 42, da terceira 6, da quarta 36, da quinta 18, da sexta 48, da sétima 54, da oitava 12, da nona 60, da décima 72, da décima primeira 66 e da décima segunda carabina, esta pertencente ao último caçador ali emparelhado, 30 capsulas aos pés. Os tambores das armas com capacidade para 6 balas.

Naquele momento ― por alguns instantes ―, um silêncio assustador tomou conta da floresta, repentinamente viera de outras bandas um vento muito forte que retorcia os galhos das árvores e, de súbito, relâmpagos reluzentes clareava toda a floresta e encandeava qualquer olhar, enquanto isso, os caçadores, completamente atordoados, buscavam proteção junto às árvores, animais alvoroçados surgiram de todas as partes num ato de protesto, esturrando, grunhindo, expressando distintivamente suas indignações pelo o acontecido, ao tempo em que externavam solidariedades à família do Boi Anauá. Após algum tempo, a ventania cessara e uma leve chuva passara a preencher o ar da floresta escura.

Os homens assustados com o que havia acontecido se agruparam imediatamente, sem demoras, seguiram para ver o que tinham matado, logo à frente passaram a acompanhar marcas de sangue espalhado por entre as folhas, ligeiramente enxergam caído ao chão um pequeno animal, era o filho do boi misterioso, o novilho mais querido por todos os animais da floresta.

Consternados e sem saber o que fazer, e só após muito tempo de lamúrias e decepções, decidiram levar o novilho morto para a cidade. Em duas cordas o amarraram e o arrastaram pela floresta enlutada a caminho de suas casas, em todo o percurso um silêncio estarrecedor que os incomodava demasiadamente, ao saírem dali, colocaram o novilho na cela do cavado sob os cuidados de um caçador, assim, seguiram e concluíram o trajeto.

Ao chegarem em suas casas, causaram frustração aos seus familiares e a toda população assim que tomaram conhecimento de que o troféu da caçada se tratava de um arteiro novilho que fora tirado de seus pais de forma tirana, portanto, sem quaisquer analises ou percepções ao alvo, a sede em matar ― naquele momento ―, fora mais forte, falara mais alto.

A notícia logo correu por todos os lugares e por onde passava deixava o povo entristecido, com toda razão, afinal, aqueles caçadores além de terem violado a Lei, criminosamente mataram o prematuro novilho que tinha toda uma vida pela frente junto a dezenas, centenas, milhares de animais em seus habitats naturais.

Dali em diante, todas as noites, de lua cheia a lua nova, vultos assombrosos rondavam as casas dos caçadores, uma por uma, noite após noite, até que no sétimo dia, em plena madrugada, uma criança fora capturada, arrastada e levada para a floresta cercada de mistérios.

A família castanheira, ao perceber que algo de muito estranho estava acontecendo em sua casa, e ao sentirem falta do filho que ali dormia e que naquele dia completaria 8 anos de idade, entrara em pânico, os pais desesperados gritavam por ajuda e, após toda a vizinhança estar acordada, chegaram à conclusão de que o que estava acontecendo se tratava na verdade de uma vingança do boi misterioso pela morte de seu filho, para os animais, mais que um símbolo, o novilho era o príncipe da Floresta Anauá.

A notícia do desaparecimento de Noviflapher Castanheira correu mundo a fora, causando medo em crianças, jovens e adultos, ninguém andava mais sozinho, ninguém dormia sozinho, ao anoitecer, entravam em suas casas, as trancavam com ferrolhos e cadeados e protegiam as crianças, temendo que elas também fossem levadas pelo boi ou por espíritos da floresta.

Logo após à captura do menino, caçadores bem armados e com nervos à flor da pele, sem demora, montaram em seus cavalos velozes e seguiram rumo à Floresta Anauá na tentativa de matar o boi e resgatar a criança desaparecida. Ao chegarem lá, a floresta encontrava-se em tempestade, chuva forte, relâmpago e trovões, sem contar que havia uma ventania assustadora, fenômenos da natureza que ao impedir suas entradas na mata, eliminaram as más intenções contidas em suas mentes e em seus corações que ora pulsavam angustiados pela euforia do momento.

Aqueles homens em estado de pânico ― pelo o que testemunharam ali ― ainda ouviram no interior da selva, já muito longe, o choro da criança e o mugido do boi misterioso. Essa foi a última vez que ouviram o longínquo som da voz daquela criança. Quando conseguiram entrar na mata fechada, a procura por Noviflapher se estendeu por vários dias sem obter nenhum sucesso, transtornados, compartilharam da ideia de que poderia ter ocorrido abertura de um portal mágico que os levaram e os mantiveram protegidos em algum lugar da grande floresta, vez que não havia outra explicação, mesmo assim, o procuraram demasiadamente, até que perderam as esperanças de encontra-lo e pararam com as buscas definitivamente. 

Após meia década, as comunidades afetadas pelas assombrações vindas da floresta, especulavam com veemência que um dos fatores para o boi misterioso ter escolhido o menino Castanheira, se dera por conta da coincidência de seus aniversários, ambos, portanto, tinham a mesma idade, assim, ano após anos, às vésperas e após esta data comemorativa, ocorriam aparições assombrosas por um período de 14 dias, assim discriminados: sete dias antes e sete dias depois dos aniversários, os moradores ouviam choro de criança e mugido de boi acompanhado de grunhidos de animais selvagens.

Dali em diante, de modo muito corriqueiro, ouvia-se murmúrios populares nos quatro cantos da cidade de que aquele lugar estava amaldiçoado e que algo precisava ser feito, pois temiam por suas crianças e precisavam de paz novamente.

Foi aí que a família Castanheira entrou em cena, ela creia que o assunto estava mal resolvido e que precisava obter esclarecimentos para o que estava acontecendo. Sem perda de tempo convidou a população para que a acompanhasse na jornada de três dias rumo à casa de Dhron, um sábio da floresta que mais parecia um monstro dos mais temerosos que já se ouviu falar, vez que todos, sem exceção, tinham medo de tal ser e desprezível criatura.

Assim combinaram e o fizeram. Em apoio àquela família, muitos se juntaram e seguiram com ela para a casa de Dhron. No caminho, durante os três dias de viagem, muito se viu e se ouviu, os que se apavoraram de medo voltaram, os que resistiram a ele seguiram até chegarem à casa do sábio.

Ao se aproximarem daquela moradia arrepiante, um vento forte surgiu do nada, não demorou muito, logo abrandara e assim se mantivera. De repente ouviram uma voz gutural que os saudara, era Dhron, o sábio da floresta. Todos ali curiosos o procuravam com seus olhos espantados, mas não o viam, ouviram apenas sua voz que dizia:

Vocês mataram o filho do Rei da Floresta Nacional Anauá. Vocês com suas armas de fogo fizeram todo o reino animal sofrer. Vocês aniquilaram a soberania do reino, destruíram, massacraram a ordem animal, causaram muita dor e sofrimento de norte ao sul, de leste a oeste da selva.

Ao matarem o príncipe, o arrastarem e consigo o levarem, atingiram em cheio o coração desta floresta, isso não se faz e vocês o fizeram, agora sofrem.

O Rei Fortuno Notável, que vocês o chamam de boi misterioso, naquele momento, de coração partido, em seu juízo de rei, entendeu que teria que fazer uma troca, de seu filho morto por um menino filho de caçador e, assim, o fez.

Não falem nada! Não quero ouvir sequer uma palavra...! O seu filho agora é filho do Rei e encantado da floresta. O que vieram buscar, seu povo o terá e, como prova da bondade do Rei, uma vez por ano vocês o verão, para isso, seu povo terá que fazer uma grande festa, diferente de todas as outras que já fizeram, esta festa receberá o nome de Festa do Novilho Encantado da Floresta Nacional Anauá. Agora vão e preparem-na!

Assim o fizeram, regressaram aos seus. Ao chegarem na cidade, a notícia que trouxeram correu como água do mar corre oceano adentro.

Ali a animação era tão grande que imediatamente todos ― crianças, mulheres e homens ―, começaram a cuidar dos preparativos, uns cuidavam da ornamentação, outros dos ensaios das danças e cantos e ainda da afinação dos instrumentos musicais.

Finalmente chegou o dia da grande festa do novilho encantado, a alegria tomou conta da quadra pública da cidade, os tambores soaram nos primeiros minutos da noite, os convidados chegaram, entre eles humanos e selvagens. Havendo harmonia em toda a organização, os protagonistas da festa iniciaram o ritual de toada e dança em preparação para receber o novilho encantado, filho do boi misterioso e Rei da Floresta Nacional Anauá.

Neste rito o novilho surge entre os brincantes, cumprimenta a todos os presentes à sua maneira, se diverte e, após um curto espaço de tempo, misteriosamente desaparece e surge o menino, que é ligeiramente abraçado e erguido em plena dança por familiares e todos ali por perto, momento de muita alegria, muita emoção. O menino sem entender o motivo de tanto carinho, passa a dançar com os pais, para ele, tudo o que aconteceu não passou de um sonho e que acordou em um dia de festa. A família por sua vez, não poderia falar nada ao filho, pois se assim o fizesse, quebraria sua promessa, e ao quebra-la, cessaria o encanto, por consequência o menino viria a óbito. 

Naquele momento, o Sul de Roraima estava em festa, o povo daquela Região envolvido por aproximação dos fatos, por unanimidade sentiram e entenderam que a paz e o amor ali havia triunfado entre as distintas populações e, a partir de ali, as portas do futuro se abriram para um novo começo, este repleto de muita alegria, amor e esperança, sensibilizando a todos para a promoção de ações sustentáveis pelo meio ambiente local, pelo planeta e pela vida, com consciência humana despertada.

Finalmente, logo na primeira hora da manhã, com o nascimento do dia, por força do encanto, o menino some, o novilho aparece, por sua vez, brinca até próximo do clarear do dia, momento em que se despede de todos e segue viagem acompanhado dos seres da floresta. Os que ficam param tudo, recolhem tudo e também vão embora, já com o compromisso de realizarem a festa do novilho encantado no próximo ano.