RELATO DE EXPERIÊNCIA POR SEQUÊNCIA DIDÁTICA SOB PERSPECTIVAS DA CULTURA DO BOI BUMBÁ
RELATO DE EXPERIENCIA POR SECUENCIA DIDÁTICA BAJO PERSPECTIVAS DE LA CULTURA DEL BOI BUMBÁ
Professor Anthony Costta Zabilini
RESUMO
Este trabalho tem como campo de estudo o surgimento e emprego da Lenda do Novilho Encantado da Floresta Nacional Anauá em ambientes educacionais, a qual é adaptada e incorporada ao Plano de Aula dos professores dos terceiros anos A, B, C, D, E e F, do primeiro ciclo do ensino fundamental, os quais tiveram papeis imprescindíveis em sua implementação em sala de aula por meio de sequência didática interdisciplinar, nos turnos matutino e vespertino da escola Joselma Lima de Souza, entre outubro e dezembro do ano de dois mil e dezessete, com culminância na X Noite Cultural desta instituição de ensino. A Lenda do Novilho Encantado foi criada pelo professor Anthony Costta, objetivando proporcionar à escola Joselma Lima de Souza e ao Município de Rorainópolis um alento inovador à cultura local/regional, a partir da criação, produção e realização materializada de um produto de cultura com início, meio e continuidade como elemento cultural a se dá por perspectivas de bases sustentáveis e por arranjos de parcerias afins.
PALAVRAS CHAVES: Escola, Boi bumbá, Novilho Encantado, Noite Cultural.
RESUMEN
Este trabajo tiene como campo de estudio el surgimiento y empleo de la Leyenda del Novillo Encantado del Bosque Nacional Anauá en ambientes educativos, la cual es adaptada y incorporada al Plan de Clase de los profesores de los terceros años A, B, C, D, E y F , del primer ciclo de la enseñanza fundamental, los cuales tuvieron papeles imprescindibles en su implementación en el aula por medio de secuencia didáctica interdisciplinaria, en los turnos matutino y vespertino de la escuela Joselma Lima de Souza, entre octubre y diciembre del año de dos mil y diecisiete, con culminación en la X Noche Cultural de esta institución de enseñanza. La Leyenda del Novillo Encantado fue creada por el profesor Anthony Costta, con el objetivo de proporcionar a la escuela Joselma Lima de Souza y al Municipio de Rorainópolis un alento innovador a la cultura local/regional, a partir de la creación, producción y realización materializada de un producto de cultura con inicio , medio y continuidad como elemento cultural que se da por perspectivas de bases sostenibles y por arreglos de alianzas afines.
PALABRAS CLAVES: Escuela, Boi bumbá, Novillo Encantado, Noche Cultural.
Introdução
A cultura adquire formas diversas através do tempo e do espaço. Essa diversidade manifesta-se na originalidade e na pluralidade das identidades que caracterizam os grupos e as sociedades que compõem a humanidade. Fonte de intercâmbios, de inovação e de criatividade, a diversidade cultural é tão necessária para o gênero humano como a diversidade biológica o é para a natureza. Neste sentido, constitui o patrimônio comum da humanidade e deve ser reconhecida e consolidada em benefício das gerações presentes e futuras. UNESCO.
A busca pela preservação, fortalecimento e consolidação sustentável de um bem cultural é imprescindível no curso da vida humana, quer se dê em nível local, nacional e/ou mundial, constitui o patrimônio comum da humanidade, como define a UNESCO, em benefício das gerações presentes e futuras.
Este Relato de Experiencias expõe que a Sequência didática sob perspectivas da cultura do Boi Bumbá, realizada no período de outubro a dezembro de 2017, tem o projeto da “Lenda do Novilho Encantado da Floresta Nacional Anauá” como ponto de partida para sua elaboração e implementação nas turmas de terceiros anos do primeiro ciclo do ensino fundamental da Escola Joselma lima de Souza, localizada no Município de Rorainópolis, Estado de Roraima, Amazônia, Brasil, que teve sua culminância na X Noite Cultural da instituição de ensino supracitada.
Um dos objetivos primordiais levantado está em disseminar e manter a Lenda do Novilho Encantado viva, evidenciando a vocação pela valorização e sustentabilidade dessa cultura no Município e Região, para tanto, destaca-se como objetivos específicos: Conhecer e valorizar a pluralidade sociocultural regional e brasileira; Reconhecer as diferentes linguagens pelas quais se expressa a pluralidade cultural; Aprimorar a leitura, a escrita, a produção e interpretação, a partir de gêneros textuais e literários; Ampliar os conhecimentos por diversas vias com o uso dos números naturais, desenvolvendo inclusive operações simples de adição, subtração, multiplicação e divisão; Adquirir por meio de estudos e da prática, cuidados necessários à preservação da vida, do ambiente e planeta como um todo, a partir do local onde se vive; Reconhecer e respeitar as diversidades culturais como elementos essenciais para uma vida humana cada vez mais pautada pela equanimidade; Ampliar o repertório artístico a partir de elementos da história da Arte, considerando-se as inovações do mundo contemporâneo; Trabalhar a importância do que dizemos, incentivando o uso da palavra como instrumento de construção de confiança, de bons relacionamentos pautados por afirmações cada vez mais sustentáveis. Compreender e respeitar regras e limites individuais ampliando as habilidades motoras específicas empregadas pelo ritmo, pelo movimento corporal, pelo equilíbrio, pela composição artística.
A proposta desse trabalho direciona-se para uma abordagem da manifestação cultural do Boi bumbá como instrumento pedagógico no processo de ensino e aprendizagem da escola Joselma, vez que se percebe relevâncias educativas deste folguedo no campo educacional que podem ser explorados de forma interdisciplinar por uma dinâmica metodológica envolvendo, inclusive, todas as disciplinas.
A princípio a ideia era a de que as turmas de terceiros anos produzissem uma apresentação para a Noite Cultural. Partindo-se do pensamento de que os discentes precisavam de algo para além de um produto para exibição em público, algo que fosse significativo e que gerasse aprendizado, surgira a ideia de criar uma lenda em torno da cultura do Boi bumbá, que posteriormente recebera o nome de Novilho Encantado, que surpreendentemente envolvera os discentes, docentes, corpo pedagógico, gestão escolar, familiares, e ainda, micro parcerias como dançador de toadas de boi, coreógrafo amador, back vocais mirins, percussionistas mirins, costureira, alfaiate de peças em couro, sonoplasta amador, operador de câmera amador, editor de vídeo amador, enfim, isso para explicitar que a “Lenda do Novilho Encantado” construíra diversas micro parcerias, formando um colegiado de atores afins em torno do projeto, que se dera por etapas em sala de aula, no pátio e na quadra poliesportiva da escola. A lenda possibilitara ainda o uso de diversas tecnologias, filmadora, data show, tela retrátil, computador, celular, caixa de som amplificada, microfone, entre outros.
Em se tratando dos resultados obtidos, destaca-se que o projeto do novilho encantado, fora mesmo uma espécie de encantamento, as conquistas se deram tanto em sala de aula, no pátio, na quadra, como fora da escola junto a familiares. A lenda possibilitara que os trabalhos se dessem de forma coletiva entre as turmas de terceiros anos pela perspectiva da interdisciplinaridade de conteúdos subsidiados por pesquisas e previstos na grade curricular do município, com práticas envolventes e estimuladoras no curso do ensino e aprendizagem, em vários ambientes da escola.
A parte prática ocorrera entre um conteúdo e outro, como ensaios de cantos das letras de toadas de Boi bumbá, danças de toadas, coreografias de Boi bumbá, encenações, confecções de chocalhos a partir de garrafas pet, ornamentação, confecção do novilho encantado, confecção de fantasias, recorte, colagem, pintura, desenhos, enfim, a execução do projeto ocorrendo dentro e fora de sala de aula.
Diagnóstico – Contextualização
A Escola Joselma Lima de Souza está localizada no Bairro periférico Novo Brasil, na sede do Município de Rorainópolis/RR, sua clientela é diversificada, a maior parte são de bairros periféricos e de famílias humildes, a escola também comporta em seu contingente discentes da zona rural. Pode se dizer que a instituição é bem estruturada fisicamente, segue modelo de escola padrão do Estado/RR, no entanto, enfrenta diversas dificuldades durante o ano letivo, a falta de materiais para subsidiar o trabalho dos docentes acontece. Em se tratando do projeto “Lenda do Novilho Encantado da Floresta Nacional Anauá”, o corpo pedagógico e direção não mediram esforços para providenciar todo o material previsto para a sua execução, o que permitira que o projeto transcorresse de forma natural, portanto, sem quaisquer transtornos.
A turma do terceiro ano “D”, objeto selecionado para exposição neste trabalho, chegara a ser composta por 35 discentes, destes 17 não sabiam ler, 13 sabiam e os demais apresentavam dificuldades. Os que sabiam ler, desenvolviam as atividades com mais autonomia, os outros sempre apresentavam maiores dificuldades. A identificação via diagnostico, possibilitara desenvolver estratégias no curso do ano letivo, aos poucos, e a médio prazo, constatar tímidas melhorias, apresentando melhores resultados a partir do segundo semestre. Quando da execução do projeto “Novilho Encantado”, entre outubro e dezembro, apenas 05 alunos apresentavam dificuldades em leitura.
Muitas foram as dificuldades para o desenvolvimento do ensino e aprendizagem na turma do terceiro ano “D” ao longo do ano letivo de 2017, a começar pelo número de alunos que prejudicara o alcance de objetivos; o alto nível de indisciplina na turma, parte dos discentes comportavam-se como se não soubessem de suas responsabilidades e deveres em sala de aula; problemas familiares, casos de família desestruturada, outras muito carentes; analfabetismo presente neste nível de terceiro ano, casos de alunos que não conheciam letras do alfabeto e números entre 0 e 9; grande parte dos discentes com dificuldades em leitura e cálculos simples de adição e subtração; materiais que subsidiam o trabalho do professor, nem sempre se tinha na escola.
Diante desta realidade visibilizada pelo projeto, poder-se-ia considerar prioritário uma política municipal de redução do número de alunos por sala, esta ação de certa forma sanaria parte dos problemas ocasionados pela lotação, consequentemente por outro lado se teria alguns ganhos com melhorias significativas.
Destacar-se-ia também como prioridade os subsídios materiais aos projetos, às sequências didáticas, muitas vezes o suprimento de necessidades básicas e urgentes para determinado momento por implemento de conteúdo específico de uma disciplina, tornaria a aula e as ações entre alunos e professores mais interativas e produtivas.
Mesmo com todos os problemas emergentes no curso do ano letivo que acabam interferindo no ensino e na aprendizagem, as crianças estão ali, se perguntado a elas, todas sem exceção, dizem que estão ali para aprender a ler e a escrever, e é, pois, neste sentido, que o trabalho do professor segue otimista sobre o interesse que os discentes demonstram ter ao se destinarem destemidamente em fazer o que se propõe em matéria de estudo quer teórico ou prático como meios para obtenção da aprendizagem.
Conhecimentos prévios
Em se tratando dos conhecimentos prévios dos discentes do terceiro ano “D” da Escola Joselma Lima de Souza, fora realizado diagnóstico com a turma por um período de 15 dias por normativa da instituição escolar.
Para o período de diagnóstico foram empregadas estratégias junto aos discentes, estas permitiram evidenciar potenciais, habilidades e dificuldades. Foram desenvolvidas atividades no campo da expressividade discursiva dirigira (temas como férias, estar com a família, com amigos, retorno à escola, assuntos que mais se identificaram no ano anterior...) e espontânea (abrir espaço para livre manifesto).
No campo da leitura verbal, foram utilizados livros literários da coleção do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa – PNAIC e textos diversificados previamente selecionados para fins de diagnostico, questionários com atividades interpretativas e resolutivas.
A aplicabilidade de atividades diversificadas nesta fase diagnóstica, permitira a constatação de diversas situações por distintos níveis de aprendizagem, passando pelos que não sabiam ler, pelos que liam com muita dificuldade e com ajuda do professor, pelos que liam com dificuldades moderadas aos que liam fluentemente. Na escrita, fora observado que havia alunos desenhando letra por letra na cópia cursiva constante na lousa, já na cópia do texto do livro alguns copiavam como lá constava, letra de imprensa, por não saber transcrever para cursiva, até por desconhecer muitas das letras daquele seguimento. Já para a modalidade ditada, poucos conseguiram realizar a atividade sem escrever palavras faltando letras.
É importante destacar aqui, que para cada assunto apresentado, antes de tudo, o professor abria espaço para socialização de conhecimentos individuais sobre o tema, diálogos e opiniões acerca do assunto, só então, seguia no aprofundamento do estudo, abrindo, vez por outra, pequenos espaços para a participação de interessados em externar suas opiniões.
Fora seguindo esses passos que se obteve diversas informações acerca dos conhecimentos prévios dos discentes, pode se dizer que muito contribuíra para com o planejamento, que agora voltara-se para a sala de aula com conhecimentos sobre a turma de forma mais próxima da realidade socioemocional e cognitiva de cada criança.
Desenvolvimento
No que concerne ao desenvolvimento, o projeto seguira de forma indissociável da sequência didática, que cumprira papel imprescindível em todas as fases implementadas, ora em sala de aula, ora em outros ambientes da instituição como: sala de informática, sala de leitura, pátio e quadra poliesportiva, e ainda, para fora do muro da escola, quando da fase mais avançada do projeto ou mais próxima de sua culminância, onde discentes seguiam aos seus lares com atribuições de leitura das toadas, composta pelo professor Anthony Costta exclusivamente para a “Lenda do Novilho Encantado; ensaios das danças e textos.
As etapas passaram pela parte de apresentação do projeto aos discentes, pela socialização de conteúdos e resolução de atividades, por criação de espaços para emissão de opiniões, pela confecção de adereços, instrumentos musicais, ensaios de danças e canto das letras de toadas, entre outras atividades que se deram durante todo o período de execução, de outubro a dezembro.
O bom da “Lenda do Novilho Encantado” é que todos os discentes dos terceiros anos da Escola Joselma, sem exceção, puderam participar diretamente do desenvolvimento do projeto, apenas para a culminância que parte dos alunos realizaram as apresentações, mesmo assim, os demais puderam contemplar e ver em cena aquilo que ajudaram a construir, esse sem dúvidas fora um grande diferencial deste projeto.
Para se ter a garantia de participação sempre motivada por parte das crianças, não foi muito difícil, visto que a “Lenda do Novilho Encantado” encantara a todos, de modo que não se tem registro de recusas em nenhum momento das fazes implementadas, ao contrário, havia a todo momento grandes expectativas e muita cobrança para a parte prática. Por tomarem conhecimento a partir da apresentação do projeto, queriam confeccionar os chocalhos, os cavalinhos, o boi, queriam participar dos ensaios das toadas, das danças, queriam assistir os vídeos de Boi bumbá, de certa forma queriam consumir o projeto em prazo que se desse o mais rápido possível, neste sentido, houve interesse do início à conclusão dos trabalhos, ao término de tudo, ficaram com gostinho de quero mais.
O projeto possibilitara o desenvolvimento de conteúdos transversais, envolvendo cultura africana, vida e tradições de remanescente de quilombos; vida e tradições dos povos indígenas; direitos humanos e cidadania; pluralidade cultural, meio ambiente apontando ao respeito e preservação da natureza, enfim, sempre fechando os assuntos, quando possível, para a regionalidade e especificidades locais.
O planejamento não passara por adaptações, não porque estava pronto e acabado, mas por não ter havido necessidades, assim seguira com toda flexibilidade possível, tudo correra dentro do que se havia planejado, neste sentido, o projeto se dera em ritmo proveitoso, nem lento, nem acelerado, seguira dentro das previsões estabelecidas, não havendo obstáculos no curso de sua implementação, ao contrário, na medida que ia ganhando visibilidade, mais interesse havia por parte dos discentes, dos professores e gestores da escola que mobilizam-se para que nada faltasse.
A Noite Cultural da escola Joselma conta com diversas parcerias, por mais que sejam pequenos apoios, mais é o que faz a instituição de ensino concretizar o evento. É de se reconhecer que se dependesse unicamente da escola ou ainda de organismos superiores do município, esta celebração cultural não ocorreria. Quem conhece sabe o malabarismo que se faz para gerenciar e realizar um macroprojeto escolar, que não deixa de ser por sua composição diversificada, são inúmeros arranjos e providências, tendo esta clareza é que se buscou micros parcerias para o projeto correr com mais liberdade, desamarrado, enfim. Fora na parte das micro parcerias, que entraram: familiares, costureira, alfaiate de estufados e coisas do gênero, brincador de boi, sonoplasta amador, operador de câmera amador, back vocais mirins amadoras, percursionistas mirins amadores, editor de vídeo amador, Ponto Eco de Cultura de Rorainópolis, Academia de Letras do Brasil / Seccional Roraima e Agência de Empreendimentos Culturais da Amazônia.
Destaca-se como momentos significativos, os de socialização acerca do conteúdo do projeto, ora entre os discentes do terceiro “D”, ora entre as demais turmas de mesmo nível; a participação dos ensaios das toadas e das danças; os momentos de confecções de materiais que seriam utilizados na apresentação do novilho encantado, entre outros momentos igualmente emocionantes, do tipo de as crianças chegarem na sala de aula e fazerem questão de externarem falas ocorridas junto aos seus familiares, o que fora considerado como força motivadora externa e, assim, concluir que estávamos no rumo certo. Não poderia deixar de citar que a culminância fora o ápice da relevância, das emoções e realizações, tanto por parte dos discentes, dos professores, como da Instituição escolar que fora muito elogiada pela originalidade do projeto “Lenda do Novilho Encantado da Floresta Nacional Anauá”.
Avaliação das aprendizagens dos alunos
Bom é poder chegar ao final de uma meta amplamente dialogada, planejada e realizada por seus participantes diretos, um colegiado diversificado de atores, composto por discentes das 06 (seis) turmas dos terceiros anos matutino e vespertino, os professores deste nível de ensino, a coordenação e direção estreitamente ligadas ao projeto, os familiares e micro parcerias afins.
Olhar para trás é constatar o resultado obtido, para a alegria de todos fora positivo, é motivo de comemoração, é dito isso porque os agentes do projeto, que são os verdadeiros feitores e responsáveis pela materialização do Lenda do Novilho Encantado, foram muito elogiados pelas atuações e culminância espetacular.
Todos saíram ganhando com a implementação deste projeto, professores, comunidade escolar e mais ainda os discentes por se integrarem e se doarem em todas as fazes de execução, quer pelos conteúdos interdisciplinares, quer pelos ensaios de danças e letras de toadas, quer pelas confecções de adereços, chocalhos, boi, entre outros, quer ainda pelas convivências discursivas em sala, na escola e/ou entre familiares. Óbvio que não se obrou milagres, longe disso, digamos que os objetivos foram alcançados, uns em maior grau e outros em menor. O que se destaca é a façanha de o projeto ter reunido e mantido o redemoinho de interesses e vocações em torno da Lenda do Novilho Encantado.
A lenda possibilitara que os discentes tivessem mais interesse por leituras do gênero, o que oportunizou breves socializações de lendas regionais, que já estava previsto de serem introduzidas paralelamente em momentos oportunos e sempre que necessário, serem retomadas em complemento à temática abordada.
Pela conciliação de conteúdos da lenda com a listagem de conteúdo do município de Rorainópolis, a avaliação se dera pelas vertentes cognitivas e socioemocionais, assim foram usadas as avaliações: diagnóstica, no início do ano letivo, que permitira identificação de conhecimentos prévios e potencialidades, contribuindo significativamente para um planejamento mais próximo da realidade de cada discente; a somativa (50 pontos) por meio de trabalhos e avaliações acerca dos conteúdos trabalhados, elaboradas para obtenção de notas, por outro lado se dera a avaliação formativa, por meio da qual fora atribuído (50 pontos) no decorrer dos conteúdos pela participação efetiva nas etapas do projeto, passando pela oralidade, pela dedicação espontânea e dirigida em momentos inteiramente práticos, pelo entusiasmo ao relatarem em sala diálogos junto a familiares, pela motivação individual e coletiva em desenhar, em pintar, em recortar, em colar, em dançar, em cantar, etc. É claro que cada um seguindo em seu tempo, uns mais entusiasmados, mais atuantes, mais ativos, mais presentes, mais pertos, enfim, uma participação pedida pelos discentes repetidas vezes, “eu professor, eu quero participar, deixa eu participar...”.
Também destaca-se como momento significativo da aprendizagem pelo fluxo de participações discursivas das crianças, abordagens sobre a cultura indígena e africana, ambas participam da origem do Boi bumbá. No nordeste aspectos da cultura africana são mais evidentes, na lenda do boi, tem os escravos pai Chico e mãe Catirina, na culinária a língua do boi, imagina-se que o desejo de Catirina em comer a língua do boi do patrão fazendeiro, possa está vinculado a condição de vida escrava de seus antepassados, onde só podiam comer os rejeitos, as partes miúdas, por esta via fica a pergunta: porque Catirina não desejou comer filé? Outro aspecto da cultura africana é a dança, os tambores artesanais esquentados na fogueira, enfim. Já no Norte, no Estado do Amazonas, o boi adota a mesma lenda, mas ganha força aspectos da cultura indígena, dança e coreografias indígenas, a lenda incorpora o imaginário da cultura local/regional indígena.
O implemento da cultura indígena e africana no projeto abrira um leque para diversas pesquisas, debate com as crianças, enfim, observa-se que por mais que se estreitasse os direcionamentos ao tema da lenda e aos conteúdos interdisciplinares trabalhados, sempre havia ativação de extensões que estavam ali interligadas a todo tempo por diversificadas vertentes temáticas de ambas culturas. Neste sentido, poderia até se dizer que o não aprofundamento destes abertos links sejam considerados pontos negativos, o fato é que requeria mais tempo para alargar as margens desses estudos, no entanto, o que se extrai dessa rica experiência, é que o projeto para sua próxima execução, em sua estruturação, se constitua com mais tempo, de modo que possa explorar links extremamente importantes por sua ligação direta ao que se trabalha em matéria de estudo e em momentos específicos.
Avaliação das etapas de trabalho sob a ótica do professor do 3º ano “D”
Estar aqui respondendo questões acerca das etapas de trabalho é motivo de vitória. O Projeto “Lenda do Novilho Encantado da Floresta Nacional Anauá”, fora idealizado e produzido em atendimento a uma programação da Escola Joselma Lima de Souza, especificamente como uma apresentação para a X Noite Cultural da instituição. No intuito deste preparativo estalara uma bolsa de ideias e a mente absorvera tudo, a princípio não imaginava que se tornaria em um grande projeto, a ficha caíra quando as professoras dos terceiros anos externaram preocupações, vez que se tratava de uma proposta ousada, complexa, portanto, de difícil realização.
Como as ideias pró projeto ofereciam segura confiança para a elaboração e implementação da proposta, pedi um voto de confiança, a partir dali, comecei a produzir a lenda espontaneamente durante uma semana, na seguinte semana três toadas, o nome “Lenda do Novilho Encantado da Floresta Nacional Anauá” viera bem depois, o fato é que na medida em que ia sendo escrita e postada em grupo de WhatsApp especifico, as professoras começaram a aplaudir, de modo que os seis membros do grupo iam ganhando confiança e acreditando que era possível firmamos e concentramos esforços no projeto.
A proposta fora avaliada a partir dos olhares críticos das professoras dos terceiros anos, parceiras e protagonistas na execução do projeto; dos olhares críticos da coordenação e direção da escola; dos olhares curiosos de funcionários da escola, zeladoras, assistentes de alunos, vigias, professores/as, que indiretamente assistiam a execução de partes práticas no pátio ou na quadra poliesportiva, os comentários sempre positivos nos bastidores; olhares de familiares apoiadores com filhos no centro das atenções. Aqui esses atores identificam-se como um aspecto importante de avaliação das práticas, vez que de modo direto e/ou indireto estes sujeitos participaram da visibilidade da “Lenda do Novilho Encantado”.
A proposta da “Lenda do Novilho Encantado” que envolvera conteúdos de todas as disciplinas, estava de acordo com as possibilidades de aprendizagens, vez que coincidira com os conteúdos programáticos da Secretaria de Educação Municipal. A aplicabilidade da lenda como sequência didática possibilitara a integração dos conteúdos para uma atuação interdisciplinar, ela teve papel importantíssimo na ênfase aos conteúdos e na abertura para novas aprendizagens, que se seguisse no curso natural sem a incorporação via lenda, dificilmente seriam lembrados ou trabalhados, por isso da afirmação de que toda a proposta estava mais do que de acordo com as possibilidades de aprendizagens, em virtude de o projeto abarcar tudo aquilo que pudesse servir de reforço aos conteúdos previsto no planejamento e assim com os subsídios específicos a cada disciplina, poder melhor atuar como mediador em sala de aula frente aos desafios impostos ao processo de ensino e da aprendizagem.
A proposta agora é a de dar continuidade ao projeto, afinal, a Lenda do Novilho Encantado da Floresta Nacional Anauá veio para ficar, enquanto professor autor da lenda, penso em publicá-la e elaborar um projeto de captação de recurso para contratar artistas plásticos e outros profissionais de Parintins/AM para confecção do novilho, 12 cavalinhos, figurino dos personagens indígenas, caçadores, esposas e filhos, fantasia de Zoolh o sábio da Floresta, fantasias de animais, compra de tambores de percussão, enfim.
Para novas execuções, há uma mudança no projeto que precisa ser feita, se trata do tempo, que deve ser estendido para se interagir melhor durante o período de sua execução, em especial com os discentes, para tanto, a proposta será apresentada aos gestores da escola para avaliação.
Conclusão
A Lenda do Novilho Encantado permitira um aprendizado pouco vivido em sala de aula, até porque os próprios conteúdos, em grande parte, ainda são definidos por olhares com apreço a perspectivas tradicionais, por outro lado os profissionais que medeiam o ensino se submetem a estes arranjos, muitas vezes unilaterais, sem nenhum encantamento ou indicadores que possam vislumbrar horizontes de perspectivas futuristas concretas do mundo de hoje, a exemplo de infinidade de links com ricas informações, que poderiam contribuir se assim fosse acessíveis. O projeto pelo contrário permitira ir além de ministrar conteúdos, levara os professores envolvidos à interdisciplinaridade envolvendo todas as disciplinas da grade curricular do primeiro ciclo do ensino fundamental; permitira momentos coletivos entre as turmas dos terceiros anos no pátio da escola; permitira o envolvimento dos pais e cercara-se de micro parcerias, isso não é comum na escola, bom seria se a lenda durasse o ano todo, porque assim se teria a chama do querer fazer e do querer aprender sempre acesa, bom seria se as escolas trabalhassem projetos envolventes, capaz de encantar seu público, sua comunidade. Essa é minha experiência profissional, um projeto que me qualificou e qualificou mais ainda meu trabalho, sem dúvidas, as professoras do mesmo nível e participante do processo de execução do projeto, em suas aulas de aula, puderam, assim como eu, obter mais qualificação para o trabalho docente.
O desafio agora é tornar o projeto em tradição cultural da escola e de Rorainópolis, mais tarde, do Estado, do Brasil e assim ganhar o Mundo.
O projeto “Lenda do Novilho Encantado da Floresta Nacional Anauá” sem dúvidas, pode ser trabalhado por todos os níveis de ensino, a fauna, a flora, relevos, mananciais, enfim, a questão ambiental como um todo, a cultura e tradições do Boi bumbá, são exemplos de conteúdo que podem ser trabalhados do primeiro ciclo do ensino fundamental ao nível universitário.
Para que outras instituições pudessem replicar o projeto, o ideal seria se a “Lenda do Novilho Encantado” fosse publicada, fosse divulgada, só assim, outros profissionais da educação se apropriariam do conteúdo da lenda e poriam em prática. Por outro lado, para que não haja quaisquer dificuldades, os encabeçadores do projeto no momento de seu planejamento e execução, deverão firmar toda e quaisquer parcerias que considerarem necessárias.
Para que ocorra aprendizado de forma prazerosa na turma a ser trabalhada, todos os estudantes devem ser envolvidos durante a execução do projeto, os que não dançam, cantam, os que não dançam e nem cantam, pintam, colam, recortam, confeccionam instrumentos, dão ideias, ficam responsáveis por atribuições de ornamentação, organizações em diversas frentes, auxiliam, correm atrás, enfim, todos farão partes de vários exercícios práticos e teóricos. É muito papel para pouca gente, é por isso que a lenda é trabalhada estrategicamente com todas as turmas de mesmo nível, assim, possibilita a percepção e acolhimento de grandes potenciais para a dianteira do projeto, que por naturalidade não tem medo de se expressarem e interpretarem em público.
O professor tem que se instrumentalizar de diversos recursos, de modo que possa subsidiar sua prática didático/pedagógica, os discentes, querem participar, realizar, promover, para tanto, as aulas precisam incorporar a “Lenda do Novilho Encantado”, a sala pode ser ornamentada, pode se ouvir toadas variadas em diversos momentos, vídeos de Boi bumbá no pátio junto das outras turmas e, entre uma coisa e outra conteúdos interdisciplinares. Durante a execução da sequência didática, deve-se abrir momentos para socialização do estudo e/ou de pesquisas realizadas sobre o assunto, abrir debates interativos, seminários, apresentação das produções confeccionadas, coreografia na sala, coreografia no pátio, canto na sala, canto no pátio, e por aí segue o ensino e a aprendizagem de modo consorciado pela teoria e prática em um universo interdisciplinar.
Referências Bibliográficas
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BUMBA MEU BOI. Disponível em: http://bumba-meu-boi.info/boi-de-parintins.html
CULTURA IDENTIDADE E TRADIÇÃO: Bumba meu boi. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Xod_80erZh4
GARANTIDO 2017 - Primeira Noite - 30/06/17. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=_EWJK2FbgSM
FESTIVAL DE PARINTINS 2017 – Garantido. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=cRCKkr6yE5g